À guisa da crítica literária
Por Marisa Maia

Quarta, 16, pós-feriado, ambiente da biblioteca preparado com cadeiras em círculo e vários livros sobre as mesas ao centro. Livros de Alberto Serrano. Chegam os convidados (amigos, parentes e alguns como eu, com um olhar distanciado de vínculos passados). Todos, sem exceção, surpresos ao conferir, visualmente, o tamanho da obra de Alberto, a quantidade de livros que ele mesmo editou. O melhor estava por vir: o conteúdo de tal obra. Obra assim, que, como tijolo por tijolo constrói-se um edifício, página por página (ou por pedacinho de papel de embrulho) Alberto construiu um monumento à memória de Bom Jardim, formado em prosa e poesia. Monumento de muitas faces: do fiel na igreja, do apaixonado por futebol, daquele que varre a rua, do outro que discute a chuva, da mãe que prepara petiscos e conta histórias...
A roda começa a girar: os personagens vão se revelando à medida que os convidados folheiam e começam a ler, meio de improviso, um trechinho aqui, um poema ali. As leituras puxam um comentário, um olhar de saudade, um sorriso maroto, às vezes uma gargalhada. De vez em quando, marejam os olhares. Por que é isto que o estilo de Alberto contém: uma nostalgia bucólica, um humor de colorido naïf , ora uma pitada mais picante, sarcástica. Em tudo, uma legitimidade, porque Alberto não escreve sobre o que imaginou, escreve sobre o que vivenciou. Tão legítimas linhas que ao serem lidas, não precisavam revelar o nome do personagem, posto que descrição materializava o tal sujeito, como se a nossa frente estivesse. Mesmo para mim, que não vim a conhecer a maioria, a persona tomava forma, devido à capacidade de síntese – poética – deste autor.

Agradecida estou de ter participado de momento tão especial dentro das comemorações do aniversário da Biblioteca Pública. Impressionada por tamanho labor: as ferramentas (bloquinho e caneta no bolso) inseparáveis do exercício. Prometi a você Alberto, que não faria como os amigos, que lhe estragam a modéstia, que os elogios podem ser perigosos à evolução literária. Mas, à procura da crítica, que posso eu lhe dizer? Que terminei enlevada pelas leituras que fiz? Pois é isto, simples assim...