Um espaço do Galpão Cultural dedicado às oficinas de ensino foi denominado Salão de Oficinas Luiz Félix Carriello.
Biografia
Luiz Fernandes Carriello (19/12/1911 – 04/11/1975)
Rememorar Luiz Fernandes Carriello, ou Luiz Félix, como muitos o chamavam, é escrever a crônica do carnaval de Bom Jardim. Nascido em 19/12/1911, nesta cidade, mais precisamente, no Arraial de Santo Antônio, onde os pais, Félix Carriello e Luiza Fernandes Carriello, mantiveram seu primeiro negócio no Brasil, - essa filho de imigrante italiano e mãe portuguesa, da Ilha da Madeira, pertence a uma família de artistas. Na casa de seus pais eram feitos o presépio da Matriz, os andores e o altar do Santo Sepulcro. Ali vestiam-se noivas, preparavam-lhe as grinaldas e os anjos cantores das procissões. Todos pintavam, desenhavam, modelavam coisas em papel crepon, restauravam objetos de arte, móveis e alfaias. E como não eram puritanos – e sim artistas – da desaparecida casa na rua que hoje tem o nome de seu pai, também saiam os blocos, corsos e carros alegóricos, com temas ecológicos, há mais de sessenta anos, quando ninguém se preocupava com isso.
Luiz Fernandes Carriello era o seu quinto filho duma prole numerosa de dez, e um dos artífices desse alumbramento, o que faz, até hoje, alguém lembrar: ah! os presépios de Dona Luzia, de Maria Félix, de Felinho, de Marinna, de Náide e de Luiz! Monjolos, moinhos, rodas d’água em movimento; feixinhos de lenha, lavradores amanhando a terra umedecida pelo musgo ainda fresquinho; figuras de celulóide vestidas de zuarte, presas ao gurgurão, que passavam e reapareciam como num encantamento. Faziam isto porque também criam no mistério que se esconde por trás do presépio. Como era costume entre os italianos, os filhos se iniciavam no ofício dos pais, que no caso de Félix Carriello, era múltiplo e variado (a venda de gêneros alimentícios, fazendas, louças, perfumaria, com bomba de gasolina à frente da loja, uma das pioneiras a se instalar na cidade); negócios de material de construção, vidraçaria e oficinas de marcenaria, tendo sido estas as primeiras atividades profissionais de nosso homenageado, ainda menino, junto ao pai. Na fase escolar, foi aluno de Da. Aurélia, num pequeno colégio na atual rua Joanna Catanheda Monnerat, junto à ponte, onde hoje se encontra uma pequena venda. Ficaram por ali seus estudos, mas sentia-se orgulhoso de ter sido colega de banco escolar do General Hélio Lemos.
Moço ainda, mas já ligado à Recreio Bonjardinense, conta-se que morre em Friburgo o Maestro Victor Hugo Rossi, então regente da banda, que precisava se fazer representar nos funerais. Alguns temeram contagiar-se da doença que matara o regente. Luiz Carriello, sem ser músico, não hesitou em vestir a farda da banda, com quepe e tudo, para representá-la com outros músicos naquele momento. Colegas de sua noiva, também presente no enterro, perguntavam a ela: “- Já viu Luiz?” E a noiva, desatenta, não reconhecia. “– Tá ali, fardado, entre os músicos da banda.”
A noiva era Cacilda de Paula Pinto, a tia Bidu, com quem viria a se casar em 5 de dezembro de 1936, na Igreja Matriz de Bom Jardim, em cerimônia celebrada pelo Padre Pedro Arnaldo, tendo o casal quatro filhos - Pery, Lia(já falecida), Ila e Jussara – e dois de adoção – Maria Léida e Silvana - ; doze netos – Ana Cristina, Ivina, Pedro Paulo, Leni, Adriana, Maria Inez, Luiz Gustavo, Cintia, Flávia, Rafaela, Vinícius, Sarah – e dez bisnetos – Hannah, Miguel Luiz, Lygea, Vitória das Graças, João Victor, Vicente, Luiza, Rebecca, Catarina e Maria Carmem.
Luiz Fernandes Carriello, o Luiz do Felix, o Luiz Felix: O Luiz Feliz! Fazedor de Artes, pintava, restaurava imagens e antiguidades, confeccionava brinquedos engenhosos!
Liga-se invariavelmente o nome de Luiz Carriello ao “Abafa”, que ele fundou e cujo nome ficou consagrado pelo povo, ao dizer que “abafara” num desfile de longínquo ano. Mas sua ligação com o carnaval é antiga. Naquele tempo não se ornamentavam as ruas e sim os salões de baile dos blocos rivais (“Paz e Amor”, “Estrela” – do qual foi porta-estandarte sua irmã Leontina - , “Abafa” e “União da Mocidade”). Os bailes eram realizados no prédio da Câmara e na Usina do Matinha, e nos dias que os antecediam, as famílias iam apreciar a ornamentação feita por Luiz e seus parentes... Vivenciava-se o carnaval neste ambiente puro, onde ninguém saía da terra para não perder os préstitos, como eram chamados os desfiles de antigamente, os corsos com os Fords de capota arriada e moças charmosas, alvo de confetes e do flerte dos rapazes.
Da sua oficina saiam o Zé Pereira, preparando a chegada do carnaval, os blocos de sujo, o próprio “Surpresa”, fundado por Paschoal Cariello Netto e por uma juventude intemerata (Dalmo Mululo, Élcio Souza, Luiz Carlos Santos, Mauro Barreto, Milton Quintes, Sylvio Lacerda) saía daquele barracão do Luiz, na travessa Félix Carriello. Por isso se associaram o Abafa e o Miguelão na merecida homenagem que prestaram a ele, num dos mais belos desfiles realizados pelas escolas de samba em Bom Jardim. Ali se rendeu tributo ao carnavalesco histórico, muitas vezes procurado pelos prefeitos da época para que não deixasse o carnaval morrer, mas que em troca exigia que fosse assegurado também o baile de graça para os que não podiam pagar; o auxílio ao bloco chamado dos pretos à época. Houve fatos marcantes nessa trajetória de vida: quando findou a guerra em 1945, ou foi restabelecido o nome de Bom Jardim ao Município, em junho de 1947; por iniciativa do deputado constituinte José Luiz Erthal, - foi Luiz Fernandes Carriello que mobilizou a cidade para festejá-los. A notícia chegou à noite e os músicos da Recreio foram mobilizados, e mesmo com suas roupas de trabalho, vieram tocar pelas ruas da cidade que se retemperava daqueles infortúnios.
Seu temperamento era alegre, comunicativo, com grande disponibilidade para servir, mas sensível se o discriminassem. As mortes da filha, de seus pais e irmãos foram acontecimentos tristes dessa personalidade. Sua nomeação para o modesto cargo no Estado não o desestimulou. Ao contrário, reencontrou velhos amigos na Recebedoria de Rendas em Nova Friburgo, para onde se deslocava diariamente, sem nenhuma falta ou ausência ao serviço, trabalhando com colegas que o distinguiam pela amizade e respeito, e aonde veio a se aposentar por cardiopatia grave. É significativo registrar que os que iam de carro a Friburgo retardavam o seu retorno a Bom Jardim, ou às cidades vizinhas, esperando a repartição fechar para trazê-lo de volta, pelo simples prazer de conversar.
Havia nele o seu lado cívico. Por ocasião da reconstitucionalização do Brasil, em 1945, fundou com Jorge Sader, Antonio José Maria Monnerat Netto, Jayme Gomes, Julio Pereira da Rosa, Rodolfo Guimarães, Raul Emmerich e outros, a UDN local, engajando-se na campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes, mas nunca quis ser candidato a nada. Num certo momento, percebeu que Diácono Alves Vieira, seu amigo, despontava como líder de sua classe, após presidir as grandiosas festas dos motoristas em honra a São Cristóvão, sendo um dos que sugeriram o seu nome para prefeito, e ele foi eleito com expressiva votação. Por esta ocasião, foi o responsável pelos carros-andores que puxariam a procissão, um reproduzindo a Igreja Matriz, outro um grande barco a vela, simbolicamente conduzido pelo Santo dos motoristas. Outro contribuição de Luiz Fernandes Carriello e Henrique Chippiani deu-se na concepção da gruta de Nossa Senhora de Lourdes, na Praça Cel. Monnerat, iniciativa da grande mestra bom-jardinense Joanna Catanheda Monnerat, hoje incluída entre os bens de preservação artística pelo Estado, que também recebeu inicialmente das mãos de Da. Bidu a vegetação adequada àquele monumento.
Por ocasião de sua morte, ocorrida em 4 de novembro de 1975, a Câmara Municipal de Bom Jardim, por iniciativa de seu presidente, o vereador Joaquim Gomes dos Santos, aprovou Moção de Pesar por seu falecimento. Mais tarde a Câmara aprovou o projeto de lei do vereador Nilton Rocha, sancionado pelo prefeito Mário Nicoliello, atribuindo o nome de LUIZ FERNANDES CARRIELLO a uma das ruas do bairro Jardim Ornellas.
(Texto produzido por Pery Carriello - filho mais velho)
Biografia
Luiz Fernandes Carriello (19/12/1911 – 04/11/1975)
Rememorar Luiz Fernandes Carriello, ou Luiz Félix, como muitos o chamavam, é escrever a crônica do carnaval de Bom Jardim. Nascido em 19/12/1911, nesta cidade, mais precisamente, no Arraial de Santo Antônio, onde os pais, Félix Carriello e Luiza Fernandes Carriello, mantiveram seu primeiro negócio no Brasil, - essa filho de imigrante italiano e mãe portuguesa, da Ilha da Madeira, pertence a uma família de artistas. Na casa de seus pais eram feitos o presépio da Matriz, os andores e o altar do Santo Sepulcro. Ali vestiam-se noivas, preparavam-lhe as grinaldas e os anjos cantores das procissões. Todos pintavam, desenhavam, modelavam coisas em papel crepon, restauravam objetos de arte, móveis e alfaias. E como não eram puritanos – e sim artistas – da desaparecida casa na rua que hoje tem o nome de seu pai, também saiam os blocos, corsos e carros alegóricos, com temas ecológicos, há mais de sessenta anos, quando ninguém se preocupava com isso.
Luiz Félix Carriello. |
Moço ainda, mas já ligado à Recreio Bonjardinense, conta-se que morre em Friburgo o Maestro Victor Hugo Rossi, então regente da banda, que precisava se fazer representar nos funerais. Alguns temeram contagiar-se da doença que matara o regente. Luiz Carriello, sem ser músico, não hesitou em vestir a farda da banda, com quepe e tudo, para representá-la com outros músicos naquele momento. Colegas de sua noiva, também presente no enterro, perguntavam a ela: “- Já viu Luiz?” E a noiva, desatenta, não reconhecia. “– Tá ali, fardado, entre os músicos da banda.”
A noiva era Cacilda de Paula Pinto, a tia Bidu, com quem viria a se casar em 5 de dezembro de 1936, na Igreja Matriz de Bom Jardim, em cerimônia celebrada pelo Padre Pedro Arnaldo, tendo o casal quatro filhos - Pery, Lia(já falecida), Ila e Jussara – e dois de adoção – Maria Léida e Silvana - ; doze netos – Ana Cristina, Ivina, Pedro Paulo, Leni, Adriana, Maria Inez, Luiz Gustavo, Cintia, Flávia, Rafaela, Vinícius, Sarah – e dez bisnetos – Hannah, Miguel Luiz, Lygea, Vitória das Graças, João Victor, Vicente, Luiza, Rebecca, Catarina e Maria Carmem.
Luiz Fernandes Carriello, o Luiz do Felix, o Luiz Felix: O Luiz Feliz! Fazedor de Artes, pintava, restaurava imagens e antiguidades, confeccionava brinquedos engenhosos!
Liga-se invariavelmente o nome de Luiz Carriello ao “Abafa”, que ele fundou e cujo nome ficou consagrado pelo povo, ao dizer que “abafara” num desfile de longínquo ano. Mas sua ligação com o carnaval é antiga. Naquele tempo não se ornamentavam as ruas e sim os salões de baile dos blocos rivais (“Paz e Amor”, “Estrela” – do qual foi porta-estandarte sua irmã Leontina - , “Abafa” e “União da Mocidade”). Os bailes eram realizados no prédio da Câmara e na Usina do Matinha, e nos dias que os antecediam, as famílias iam apreciar a ornamentação feita por Luiz e seus parentes... Vivenciava-se o carnaval neste ambiente puro, onde ninguém saía da terra para não perder os préstitos, como eram chamados os desfiles de antigamente, os corsos com os Fords de capota arriada e moças charmosas, alvo de confetes e do flerte dos rapazes.
Da sua oficina saiam o Zé Pereira, preparando a chegada do carnaval, os blocos de sujo, o próprio “Surpresa”, fundado por Paschoal Cariello Netto e por uma juventude intemerata (Dalmo Mululo, Élcio Souza, Luiz Carlos Santos, Mauro Barreto, Milton Quintes, Sylvio Lacerda) saía daquele barracão do Luiz, na travessa Félix Carriello. Por isso se associaram o Abafa e o Miguelão na merecida homenagem que prestaram a ele, num dos mais belos desfiles realizados pelas escolas de samba em Bom Jardim. Ali se rendeu tributo ao carnavalesco histórico, muitas vezes procurado pelos prefeitos da época para que não deixasse o carnaval morrer, mas que em troca exigia que fosse assegurado também o baile de graça para os que não podiam pagar; o auxílio ao bloco chamado dos pretos à época. Houve fatos marcantes nessa trajetória de vida: quando findou a guerra em 1945, ou foi restabelecido o nome de Bom Jardim ao Município, em junho de 1947; por iniciativa do deputado constituinte José Luiz Erthal, - foi Luiz Fernandes Carriello que mobilizou a cidade para festejá-los. A notícia chegou à noite e os músicos da Recreio foram mobilizados, e mesmo com suas roupas de trabalho, vieram tocar pelas ruas da cidade que se retemperava daqueles infortúnios.
Seu temperamento era alegre, comunicativo, com grande disponibilidade para servir, mas sensível se o discriminassem. As mortes da filha, de seus pais e irmãos foram acontecimentos tristes dessa personalidade. Sua nomeação para o modesto cargo no Estado não o desestimulou. Ao contrário, reencontrou velhos amigos na Recebedoria de Rendas em Nova Friburgo, para onde se deslocava diariamente, sem nenhuma falta ou ausência ao serviço, trabalhando com colegas que o distinguiam pela amizade e respeito, e aonde veio a se aposentar por cardiopatia grave. É significativo registrar que os que iam de carro a Friburgo retardavam o seu retorno a Bom Jardim, ou às cidades vizinhas, esperando a repartição fechar para trazê-lo de volta, pelo simples prazer de conversar.
Havia nele o seu lado cívico. Por ocasião da reconstitucionalização do Brasil, em 1945, fundou com Jorge Sader, Antonio José Maria Monnerat Netto, Jayme Gomes, Julio Pereira da Rosa, Rodolfo Guimarães, Raul Emmerich e outros, a UDN local, engajando-se na campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes, mas nunca quis ser candidato a nada. Num certo momento, percebeu que Diácono Alves Vieira, seu amigo, despontava como líder de sua classe, após presidir as grandiosas festas dos motoristas em honra a São Cristóvão, sendo um dos que sugeriram o seu nome para prefeito, e ele foi eleito com expressiva votação. Por esta ocasião, foi o responsável pelos carros-andores que puxariam a procissão, um reproduzindo a Igreja Matriz, outro um grande barco a vela, simbolicamente conduzido pelo Santo dos motoristas. Outro contribuição de Luiz Fernandes Carriello e Henrique Chippiani deu-se na concepção da gruta de Nossa Senhora de Lourdes, na Praça Cel. Monnerat, iniciativa da grande mestra bom-jardinense Joanna Catanheda Monnerat, hoje incluída entre os bens de preservação artística pelo Estado, que também recebeu inicialmente das mãos de Da. Bidu a vegetação adequada àquele monumento.
Por ocasião de sua morte, ocorrida em 4 de novembro de 1975, a Câmara Municipal de Bom Jardim, por iniciativa de seu presidente, o vereador Joaquim Gomes dos Santos, aprovou Moção de Pesar por seu falecimento. Mais tarde a Câmara aprovou o projeto de lei do vereador Nilton Rocha, sancionado pelo prefeito Mário Nicoliello, atribuindo o nome de LUIZ FERNANDES CARRIELLO a uma das ruas do bairro Jardim Ornellas.
(Texto produzido por Pery Carriello - filho mais velho)
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